quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Pour mon cher ami!

E descobriu, no passo de alguns meses, que o universo se faz de instantes. Assim, como em noites de muito frio, em que apenas um gesto permite cercar todo o espaço de um terno calor. E assim, incapaz de sorrir, chorou, profundamente grato. E não é que não lhe fosse possível sorrir, não lhe era querido fazê-lo. Não por tristeza ou desgosto, mas por uma estranha sensação de que o choro permitiria esfriar o tempo, e assim, dali alguns instantes, o gesto tornasse a aquecê-lo. Não era preciso chorar, bem sabia. Esse calor, tão raro, mesmo que existisse só para ele, era revivido em cada outros tantos instantes. Revividos em forma tão cálida, que a ausência destes era como o fim. Bem sabia que não o era, mas enfim, são dessas estranhas matérias que os universos se constituem.

Homenagem ao querido e saudoso amigo Marco Elísio Nepomuceno

***

SEGUNDO CONSTA

O mundo acabando,
podem ficar tranquilos.
Acaba voltando
tudo aquilo.

Reconstruam tudo
segundo a planta dos meus versos.
Vento, eu disse como.
Nuvem, eu disse quando.
Sol, casa, rua,
reinos, ruínas, anos,
disse como éramos.

Amor, eu disse como.
E como era mesmo?

Paulo Leminsk

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