quinta-feira, 23 de abril de 2009

Vale a pena ser bom?

Diante da nova ordem mundial, eu me pergunto: Vale a pena ser bom? Bom em todos os sentidos. Eu explico. Diante de toda essa crise capitalista neoliberal, ser bom no trabalho garante que teremos nossos empregos intactos? Ser uma pessoa boa, de coração bom, garante que você terá uma boa companhia, um cobertor de orelhas pra trocar carícias e sonhos ou amigos interessados apenas na sua alma? Ultimamente tenho notado que ser bom é ser otário. É se doar e dar tudo que pode, com todo seu suor ou todo seu amor, no trabalho e nas relações, e receber “pés-na-bunda” como recompensa, e isso porque você é bom.

No trabalho por exemplo. De que adianta você ser excelente profissional se o seu chefe não dá o mínimo valor para o seu ofício? Ou melhor, até dá, mas nunca diz e nem irá demonstrar isso pra você – você sempre achará que não é bom apesar de sê-lo. Relaxa! Isso quer dizer que você é bom mesmo. Se você fosse ruim nem teria um trabalho é claro, mas se fosse ruim no coração, provavelmente vocês (você e seu chefe) seriam excelentes amigos de fim de semana no sitio. Óbvio que ser amigo do chefe não é lá grandes coisas, mas fingir por fingir, melhor que seja a base de elogios (falsos... mas são elogios). Um chefe prefere ter um suposto inimigo sob seu controle, debaixo de seu olhar de “chefe”, do que conspirando contra ele. Os bons não conspiram, nem elaboram intervenções para subir de cargo: apenas trabalham! São otários. Noto um grande desinteresse pelo ofício - fazer porque tem de ser feito e não porque é gostoso e dá prazer. Trabalho não é prazer! Trabalho é uma mácula que inventaram para massacrar. Essa idéia me deprime.

A Polícia é um bom exemplo. Na década de 60, durante a ditadura militar brasileira foi treinada pra ser boa, ou seja, eficientemente assassina e torturadora contra aqueles que queriam a liberdade. Entenderam? A policia brasileira é realmente boa e eficiente: atira primeiro e só depois pergunta pro cadáver: de onde é e pra onde vai? Quem lutava contra o regime era realmente bom (no oficio, nas intensões e no coração), mas estão mortos, loucos, inválidos – e até hoje incompreendidos. Então? Vale a pena ser bom?

Se faz uma caridade, é assistencialista. Se faz protesto em prol ao bem comum, é baderneiro ou terrorista. Se faz o bem a alguém, é oportunista. Se faz seu trabalho bem feito e com muito suor, é trouxa. Se doa seu coração a alguém sem medo e sem mistério, é otário. É a Lei de Gerson incrustada na Lei do Menor Esforço: levar vantagens sempre sem precisar mover uma palha sequer – tem sempre um otário bondoso pra fazer isso por você.

No caso de uma relação amorosa a coisa é inexplicável. Quanto mais estragos você fizer na alma da pessoa "amada" melhor, assim, sem o menor medo de pensar que no outro reside um ser humano, dotado de sentimentos nobres e que, por incrível que pareça, gosta de você. Nos relacionamentos está valendo a ordem de “quanto pior, melhor” - é tudo sexo, pegação, azaração. O ser humano agora é um bem descartável - você usa, mastiga e consome. Perdeu o gosto? Joga fora e pega outro na prateleira. Ser bom em um relacionamento, atualmente, é o mesmo que ser otário. Se você for bom demais ou a pessoa te usa em beneficio próprio, pra costurar os cortes do passado ou tapar buracos do presente, e que depois de curados e tapados, você é algo dispensável – afinal você é bom, serve pra isso mesmo: ajudar até quem não merece. Você ainda pode entrar no temível “triângulo amoroso”, onde uma das pontas, no caso você (a ponta boa), é a única que não sabe que está preso a essa geometria vil e sacana. Como eu disse: ser bom é ser otário. Vale a pena ser bom? Vale a pena ser otário?

Diante dessas perguntas é lógico que vocês devem estar pensando: Não! Vale a pena ser bom, mas não otário. Só que infelizmente essas duas palavras estão se tornando sinônimas. Nossa língua é a nossa cultura e estamos caminhando para nível do me, myself and I. Uma hora a palavra “bom” vai acabar ficando ruim.

Sou o que descubro da vida. Entendi, a duras penas, que o tempo é uma matéria e que, apesar disso, não pode ser mudado. Eu que mudo, me...