quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Pé na porta, soco na cara!

Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu, a gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu.

Há muito tempo essa frase de Chico Buarque martela na minha cachola. Aliás, em se tratando desse país varonil, começo a achar que Chico é um ser de outro planeta, um guru, uma entidade reveladora – essa frase não perde o sentido nunca! Será possível? Gostaria muito (me desculpe Chico mas é para um causa nobre) que seu significado ficasse enraizado no passado. Mas infelizmente serve pro ontem, pra hoje e quiçá pra amanhã.

São “mensalões” de todos os tipos daqui, maracutaias dali, conchavos políticos acolá, um que pisa no rabo do outro e o outro pisando no rabo do um, misturando os fundilhos, as bundas, as ancas políticas, e assim caminha a brava gente brasileira. Longe vá o temor servil. Pois então, é esse “temor servil” que me incomoda. Somos servis demais. É tudo samba, mulher e futebol. Bem, nada contra ao samba de Noel, nem à maravilhosa mulher brasileira e quem diria ao futebol de meu glorioso Clube Atlético Mineiro (sei, sei.. flanelinha, tá bom, que se dane!), mas pensar só nisso em todos os dias do ano, onde a Terra, vejam bem, tem que dar uma volta completa ao redor do Sol – é um trabalho árduo que nosso planeta faz para que fiquemos hipnotizados, por todo esse processo astral, com tais delícias terrenas.

Outro dia abri a Folha de São Paulo e vi na sessão “Ilustrada” uma foto de estudantes da Indonésia lotando as ruas de Jacarta em protesto contra a corrupção e a decadência dos órgãos públicos (em especial o sistema judiciário). Aqui o que vemos é uma multidão de fanáticos lotando os estádios de futebol, shows da Madona, Micaretas e Coisinhas da Bahia. Mas tudo isso tem explicação: lá não tem futebol, não tem mulher bonita (muito menos pelada) e nem carnaval o ano inteiro, sobra tempo para uma revoluçãozinha ou uma passeata básica para animar a galera.

Seguindo então a análise política através da música, acoplada à frase de Chico vem sempre a letra da banda Matanza, “nada a ver” com ele mas complementa o sentimento pela bagaça: “E toda paciência um dia chega ao fim, inevitavelmente isso termina assim. Na cara, reto que arrebenta o nariz. Essa noite vai dormir feliz! Pé na porta e soco na cara”.

Então crianças, queridos filhos da pátria, já que a gente se sente meio pra baixo como quem já morreu ou se fudeu, já que a gente está sempre estancado ou nem fazemos a mínima ideia se foi o mundo que cresceu a nossa volta, vamos deixar, enfim que a paciência nata de todo brasileiro (que não desiste nunca – nem de ser babaca) acabe de vez. Vamos partir logo pra briga com um pé na porta e um direto bem no nariz, que é pra dormir feliz!

Taí a música pra ver se a gente anima!



Sou o que descubro da vida. Entendi, a duras penas, que o tempo é uma matéria e que, apesar disso, não pode ser mudado. Eu que mudo, me...