segunda-feira, 14 de março de 2011

Por "Paz e Pão"

Gente, lá vai eu botar a boca no trombone novamente. Afinal de contas aqui é o Ideias Ordinárias e critico uma das mais ordinárias que vejo por aí: a distorção desse tal “Dia Internacional da Mulher”. Pois bem, vamos aos fatos históricos.

Ao contrário do que todo mundo pensa, esse dia não é uma homenagem às mulheres rebeldes de uma fábrica têxtil em Nova York. Tem a ver mas não se sabe ao certo o que motivou a criação desse dia. Estudos socialistas indicam que começou a ser idealizado após as centenas de manifestações das trabalhadoras européias, pouco antes da Revolução Russa de 1917, por melhores condições de vida e trabalho (chamada de "Marcha por Paz e Pão"). Imaginem vocês, início de século e mulheres saem as ruas para se juntar aos sovietes (conselho de trabalhadores que assumem o papel do Estado) em busca de uma vida mais digna. Deu pano pra manga. Se hoje as mulheres conquistaram o que tem, começou aí.

De lá pra cá, assim como o dia das Mães, o dia 8 de Março é dia de um bando de homens dar flores para um bando de mulheres. Escrever frases feitas nas redes de relacionamento. Pagar um jantarzinho para a esposa. Dar um celular para a filha, entre outras coisas de consumo rápido. E os outros 364 dias? Esses dias são destinados à cobranças de almoço pronto e sexo imediato? À sessões de tortura, espancamento, prostituição e homicídios destinados à mulher, principalmente à brasileira? Ao chovinismo masculino que diz que "mulher minha não viaja sozinha" e "mulher minha não sai com as amigas sem mim"?  É essa guerreira que vive num país ainda machista e patriarcal que, antes de sair para sua jornada diária de trabalho, tem que deixar o café prontinho, os filhos devidamente alimentados e o marido lustrosamente escovado. Isso quando não tem que voltar correndo pra casa antes da turba chegar faminta para deixar o almoço pronto, pra só depois retornar ao batente. Sem contar que trabalho doméstico pode ser mais pesado que qualquer ofício em um escritório na Av. Paulista. A diferença é que a remuneração se baseia em flores no seu dia internacional, máquina de lavar no dia das Mães, eletrodomésticos no Natal e aquela famosa piadinha sem açúcar e sem afeto: minha mulher só fica em casa, na vida boa.

Não estou aqui condenando o dia Internacional da Mulher. Esse dia é válido como reflexão, como ponto de partida para uma mudança radical nas relações humanas (isso se não conseguirem distorcer tudo e transformar o dia em mais um "Dia de Sair às Compras"). Eu condeno a hipocrisia da sociedade que deveria utilizar as razões históricas desse dia para que as relações entre mulheres e homens sejam iguais e no mínimo respeitosas. No dia 8 de março, ao contrário de flores, frases, quinquilharias e bugigangas, a sociedade  deveria pensar melhor no destino reservado às mulheres.

Bom, fiquei órfão de pai aos 17 anos e de lá pra cá nutri um grande sentimento de amor por minha mãe e por minha irmã. Uma mãe que, sozinha e numa luta muito dura que só uma jovem viúva pode explicar, conseguiu me ajudar a ser o que sou hoje, homem integro, honesto, humano como outro qualquer, mas com defeitos bem mais sutis que muitos. Uma irmã que se sentiu perdida, aos tenros 15 anos de idade, e que viu em mim o carinho precocemente perdido do pai. Pergunta: eu dei alguma coisa para elas no dia 8 de março? Absolutamente nada além daquilo que dou todos os dias: doses de respeito diário. É dedicação de um homem praticamente criado por mulheres.

Uma breve história que aprendi na pós-graduação e que mexeu muito com minha ideologia feminina. Vocês, caros amigos, não estariam lendo estas palavras se não fossem as mulheres (entre outras muitas coisas), sabiam disso? Nos primórdios da humanidade, pela constituição física de machos e fêmeas, começou-se a diferenciar as tarefas daquela sociedade que se formava. Machos caçavam, fêmeas permaneciam nas cavernas. As figuras rupestres habilmente desenhadas nas paredes não eram feitas por machos e sim por fêmeas. Os machos lhes diziam como foi a caçada, qual o tamanho do búfalo ou se o alce tinha chifres, a representação gráfica dessas histórias eram contadas, para todo o sempre, pelas fêmeas. E ainda tem mais, se hoje comemos banana, jiló, couve, feijão ou carne cozida, isso foi fruto da inteligência e sensibilidade feminina de experimentar coisas e descobrir se pode ou não pode. Daí, na hora de dar um sopapo na cara de uma mulher ou pagar a ela um dobrão a menos, o homem deveria pensar que se não fosse a ancestral de seu alvo, ele provavelmente já teria perecido antes mesmo de conseguir virar o homem machista e arrogante que é. 

Enfim, só me resta dizer: mulher, tu é foda!

Sou o que descubro da vida. Entendi, a duras penas, que o tempo é uma matéria e que, apesar disso, não pode ser mudado. Eu que mudo, me...