sábado, 7 de março de 2009

O direito ao "Foda-se"

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional a quantidade de foda-se que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do foda-se!? O foda-se aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta. Não quer sair comigo? Então foda-se! Vai querer decidir essa merda sozinho mesmo? Então foda-se! O direito ao foda-se deveria estar assegurado na Constituição Federal.

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

Prá caralho, por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de "muita quantidade" do que Prá caralho? Prá caralho tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas prá caralho, o Sol é quente prá caralho, o universo é antigo prá caralho, eu gosto de cerveja prá caralho, entende? No gênero do Prá caralho, mas, no caso, expressando a mais absoluta negação, está o famoso Nem fodendo. O Não, não e não, e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade Não, absolutamente não o substituem.

O Nem fodendo é irretorquível, e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranquila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo “Marquinhos presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!”. O impertinente se manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Toquinho.

Por sua vez, o porra nenhuma atendeu tão plenamente às situações onde nosso ego exigia, não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional. Como comentar a gravata daquele chefe idiota senão com um "PHD porra nenhuma!", ou “ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!”. O porra nenhuma, como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.

São dessa mesma gênese os clássicos aspone, chepone, repone e mais recentemente, o prepone - presidente de porra nenhuma. Há outros palavrões igualmente clássicos. Pense na sonoridade de um Puta-que-pariu!, ou seu correlato Puta-que-o-pariu!, falados assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba... Diante de uma notícia irritante qualquer - “Puta-que-o-pariu!”. Dito assim, te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios tem o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso vai tomar no cu!? E sua maravilhosa e reforçadora derivação vai tomar no olho do seu cu!. Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta: Chega! Vai tomar no olho do seu cu!

Pronto, você retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e sai à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: Fodeu!. E sua derivação mais avassaladora ainda: Fodeu de vez! Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação?

Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e autodefesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? Fodeu de vez!


É isso, liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se...

3 comentários:

Anônimo disse...

GOsto de conversar com voce, então foda-se,porque voce é gente boa "prá caralho"... E eu não to "nem fudendo" de voce ser meu professor... E ninguém tem direito de falar "porra nenhuma",e se sim, mando todos pra "puta-que-o-pariu", e mais, se virar fofoca, vou além .... mando "tomar no olho do cú " .
agora, se eu me apaixonar, "fodeu de vez" ...

Fany Dimytria disse...

Ed.
que postagem mais bacana , cara.
eu adorei, expressa bem o que eu acho sobre
'palavrões', so acho indevido o uso dos mesmos
perto de crianças. [é, vamos presar a inocência].

=*
ótimo,ótimo.

Unknown disse...

Ei...lembro qdo vc me mandou esse texto...

Obg por me ajudar a descobrir o meu direito ao "foda-se"! rsrsrs...

Chêro!

Sou o que descubro da vida. Entendi, a duras penas, que o tempo é uma matéria e que, apesar disso, não pode ser mudado. Eu que mudo, me...