segunda-feira, 29 de junho de 2009

Lugar de Diploma é na parede!

Leitores, amigos e afins, o papo é sério!

Como jornalista, resolvi deixar a poeira baixar e analisar o fato com muita calma e inteligência, apurar com paciência as circunstâncias que envolvem o caso da não obrigatoriedade do diploma de jornalista. Não queria "gastar o meu latim" falando pelos cotovelos e defendendo a classe jornalística sem ter uma noção certa do que realmente poderá acontecer daqui pra frente. Bem, cheguei a um veredito: pra mim essa decisão fede, mas seu cheiro não vai tão longe. E vou dizer o porquê.

A decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, presidente da Casa, em não exigir o diploma de jornalismo para o exercício da profissão é um tanto ridícula, imoral e inconstitucional (não fere - rasga a Constituição), claro, mas de certa forma não impede que jornalistas de direito, com diploma, trabalhem nas redações. Muito simples: um ser pensante (Luiz Fernando Veríssimo, João Ubaldo Ribeiro, Fernando Brant, entre outros, são uma prova cabal) pode redigir artigos (e excelentes artigos), comentários, crônicas em jornais, revistas, internet, TV e Rádio, porém não saberá como proceder quando redigir um lead usando para isso uma "pirâmide invertida" e evitando o "nariz de cera". Pois é, quem não é jornalista não entendeu nada do que eu disse, certo?! Então, não temos com o que se preocupar, porque essas técnicas (e outras tantas - além da ética) aprendemos na faculdade.

Outro ponto interessante nessa pataquada toda, e isto não saiu da minha cachola (apareceu conversando com editores e chefes de redação) é o fato de que se uma pessoa chegar num veículo de comunicação sério querendo ser jornalista dará "com os burros n'água". Nenhum chefe de redação ou editor fará a loucura de confiar reportagens a quem não sabe apurar, organizar e redigir uma boa matéria jornalística. A justiça será feita no mercado de trabalho, portanto não se preocupem com um diploma, se preocupem em obtê-lo da melhor maneira que puderem. Eu mesmo já vi muito jornalista diplomado não conseguir trabalho por não saber conduzir uma reportagem, por ter feito uma faculdade "nas coxas", por não exercitar o jornalismo.

Porém, o que mais me preocupa, e é o que mais preocupa a maioria dos colegas jornalistas que acompanham essa história de perto, é a questão salarial. Nossa categoria amarga há anos salários baixíssimos além de condições inapropriadas de trabalho. É uma luta dura e regressa. Sempre tendo em mente a velha e surrada frase: não quer, tem quem queira. Isto é, se o profissional não está satisfeito com o seu salário terá sempre um lá fora afim dele, mesmo baixo e injusto. Somos obrigados a aceitar assim mesmo, afinal - vale mais um peito na mão do que dois no sutiã.

A decisão do STF fará com que as vitórias salarias conseguidas pela categoria, através dos sindicatos, caiam por terra, ou melhor, sejam enterradas a sete palmos, com direito a pá de cal que é para deteriorar mais rápido. Além disso, as condições de trabalho que já são péssimas (ameaças de morte, ameaças de agressão física e psicológica, 5h de trabalho diário é uma balela, processos judiciais, etc... etc.. etc... ) ficarão ainda piores. Nivelarão por baixo (odeio essa expressão - mas não achei outra melhor) as condições de trabalho daqueles que tentam levar informação à sociedade. "Tentamos" porque sempre esbarramos nos interesses, políticos é claro, do patronato jornalístico. Donos de jornais não saem a campo, não se espremem em coletivas, não enfrentam no braço e no peito as coberturas do dia-a-dia. Ficam no ar-condicionado, fumando charuto, bebendo uísque 12 anos, apreciando mulheres, mandando e desmandando a seu bel prazer e fazendo conchavos políticos - literalmente vendendo a alma ao Diabo. E nós TRABALHADORES como qualquer outro desse país é que levamos a fama de alienados, injustos, falsos, demagogos. Quem não vive essa realidade não entende que nem sempre o que colhemos nas ruas é o que sai nos jornais. E agora, com a desobrigação do diploma, certamente tudo isso ficará muito pior. Preparem-se! Se isso não mudar logo teremos anos de trevas na já deteriorada (não por nossa culpa) Comunicação Social.

Agora, um fato que me chamou a atenção e por pura desinformação (até mesmo de nossos colegas jornalistas), não foi dito, nem largamente divulgado. O ministro Gilmar mendes, responsável por toda essa história, é o mesmo que, dias depois, ajudou a absolver dois acusados de pedofilia e flagrados com duas meninas de 12 e 13 anos. Segundo a decisão do STF (e esta é a minha interpretação diante tamanha falta de sensibilidade e humanismo), os acusados - um deles é o atleta Zequinha Barbosa, não estavam com duas crianças vítimas da sordidez, da miséria, da falta de estrutura familiar e de caráter da sociedade, eles estavam com duas prostitutas e, na visão desses nobres magistrados, ato sexual com prostitutas pode - mesmo que elas sejam duas crianças, duas menores de idade. Que tristeza.


O documento abaixo você só consegue com o diploma na mão! Mas não se iludam, ser jornalista é praticar o jornalismo - ter um diploma e tirar a carteira não quer dizer muita coisa, mas certamente é um ótimo começo.

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